A multinacional Ikea está testando protótipos de exoesqueletos em três de seus centros de distribuição na Espanha. Esses sistemas reduzem em até 50% o esforço muscular necessário para o trabalhador levantar e manusear cargas, redistribuindo as forças para a estrutura externa.
A empresa sueca é a maior fabricante de móveis domésticos do mundo e possui ampla cadeia logística de vendas e distribuição. O grupo Ikea administra 355 lojas em 29 países, 31 centros de distribuição para lojistas em 18 países e 26 centros de distribuição para clientes em 13 países.
Os exoesqueletos sob teste pela Ikea foram projetados para redistribuir os esforços que os trabalhadores fazem ao levantar, mover e carregar caixas contendo peças de mobiliário.
O equipamento é muito leve, pesa cerca de 2,5 kg, e não precisa de bateria recarregada, pois a energia é extraída dos movimentos do trabalhador. Seu uso limita os movimentos e obriga ao empregado manter posturas mais adequadas para evitar a doença ocupacional típica do setor de varejo: dores lombares e lesões nas articulações por excesso de peso ou movimentos inadequados.
“Quando falamos de revolução tecnológica sempre se pensa em sistemas e no consumidor, mas esse avanço é igualmente importante pois beneficia o trabalhador”, diz Sergi Martinez, diretor da Ikea Badalona. A Espanha é o laboratório mundial do equipamento da multinacional interessada em ampliar seu uso.
No início de 2019, a Ikea apresentou nove protótipos do exoesqueleto em Badalona, na província de Barcelona, em San Sebastian de los Reyes e Vallecas, essas duas últimas na província de Madrid.
Na divisão de logística Badalona Center há 140 trabalhadores, do total de 560 funcionários na planta. Nesse centro, quatro trabalhadores da divisão de logística estão testando os exoesqueletos a várias semanas – dois homens e duas mulheres acompanhados por equipe médica. Os primeiros resultados são positivos. Se os testes forem satisfatórios, a gestão da Ikea poderá implantar a tecnologia em outras divisões.
Exoesqueletos já são utilizados por trabalhadores em outros setores, incluindo a indústria automobilística na Espanha. Contudo, no varejo, a multinacional sueca é pioneira na Espanha. “Não nos contentamos com a média do setor, queremos nos destacar”, explica o diretor da Ikea.
A introdução do exoesqueleto não substituirá a formação obrigatória de prevenção dos riscos ocupacionais, mas vai complementá-la. Na Ikea, os funcionários participam de cursos com quatro horas ao entrarem na empresa e fazem outro depois de um ano para lembrar os conceitos.
A tecnologia foi bem recebida pelos sindicatos, pois eles pedem redução do trabalho em tempo parcial e da rotatividade na divisão de logística. A introdução dos exoesqueletos aumentará a produtividade das equipes de trabalhadores na Ikea.
Os sindicatos também reivindicam outras melhorias que não exigem muito investimento tecnológico, tais como novas cadeiras ergonômicas para os caixas e funcionários do restaurante.
Assista ao vídeo abaixo para entender melhor as aplicações dos exoesqueletos em diversas áreas, soluções desenvolvidas pela Panasonic:
Desenvolvimento de exoesqueletos pela startup ActiveLink da Panasonic (Japão, 2016)
Fonte: El Periodico, acesso em 02/04/2019.
Nota Técnica do Eng. Rone Antônio de Azevedo:
No Brasil, a Norma Regulamentadora NR-17 – Ergonomia orienta de forma simplificada o manuseio e transporte de cargas por trabalhadores. Devem ser realizada a avaliação da capacidade física do trabalhador para não comprometer sua saúde e segurança, limitando o peso máximo e a distância a ser percorrida. Ações educativas são necessárias para prevenção das doenças musculoesqueléticas.
Existe a polêmica sobre o peso máximo das cargas a serem manuseadas. O art. 390 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (Decreto-Lei nº 5.452/1943) veda às mulheres exercerem força muscular superior a 20 (vinte) quilos, para o trabalho contínuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos, para o trabalho ocasional.
No entanto, o art. 198 da CLT permite para os homens o peso máximo de 60 (sessenta) quilos a ser movido individualmente, ressalvadas as disposições especiais para o trabalho do menor e da mulher. Essa discrepância sem fundamento biológico resulta em diferenças relativas de 140%, no trabalho ocasional, e 200%, na forma contínua.
A utilização de exoesqueletos reduz significativamente os esforços musculares decorrentes do manuseio e transporte de cargas por ambos os sexos nas operações de armazenamento, enfermagem e fisioterapia, uso de ferramentas com peso elevado.
A matéria revela o compromisso por parte de uma grande multinacional em investir tecnologia de ponta para melhorar a condição de trabalho dos seus empregados. A Ergonomia pode contribuir para o aumento da produtividade e a redução de doenças ocupacionais.