Autor: Rone Antônio de Azevedo, engenheiro civil e de segurança do trabalho, diretor da Loxxi Engenharia.
Em 27 de março de 2012, o vôo 191 da JetBlue, aeronave Airbus A320 com 135 passageiros a bordo, seguia de Nova Yorque para Las Vegas, Nevada, nos Estados Unidos.
Três horas e meia após a decolagem do aeroporto John F. Kennedy (JFK), em Nova Iorque, ocorreu a emergência à bordo devido ao distúrbio mental do seu comandante.
Segundo relatos dos passageiros do vôo, o piloto teve um surto. Durante sua crise nervosa, ele falava que todos iriam morrer, que afegãos e iraquianos estavam ameaçando o voo, mencionava Israel e destruição. Proferia frases sem sentido.
Uma passageira daquele vôo gravou vídeo do distúrbio e a reação dos passageiros. Porém, o vídeo foi censurado pela agência de inteligência FBI para evitar a disseminação de conteúdo potencialmente conflitante à segurança nacional e de incentivo ao terrorismo.
Os passageiros do vôo 191 conseguiram dominar fisicamente o piloto. Por medida de segurança, o copiloto se trancou na cabine de comando, evitando que o piloto tentasse manobras perigosas.
Felizmente, outro capitão da empresa JetBlue estava em sua folga e embarcou no mesmo vôo. Ele ajudou a tripulação a reassumir o controle da aeronave e restabeleceu os procedimentos.
Devido à emergência à bordo, o capitão notificou as autoridades aeronáuticas. Recebeu, então, autorização para desviar a rota para Amarillo, no Texas, e pousou a aeronave em segurança.
As autoridades americanas sugerem que o piloto sofreu a síndrome de pânico. Os pilotos comentaram que foi estresse por excesso de trabalho.
Na ocasião, a companhia JetBlue informou que o piloto, cuja identidade foi mantida em sigilo, foi levado para tratamento em clínica médica.
Síndrome do pânico
A síndrome do pânico é causada por muita ansiedade em situações normais com risco pequeno ou atividades que deveriam estar sob controle. Especialmente no caso dos profissionais, o pressuposto é de que possuam preparo adequado, conhecimento técnico e experiência acumulada para lidar com os riscos inerentes ao trabalho.
A ansiedade intensa pode configurar a síndrome do pânico, transtorno no qual a pessoa sofre distúrbios ou ataques de pânico durante alguns momentos. Conforme Pfizer (2019), os sintomas usuais dessa síndrome são os seguintes:
- Perda do foco visual;
- Dificuldade de respirar;
- Sensação de irrealidade;
- Suor frio;
- Boca seca;
- Pensamentos catastróficos;
- Medo da morte iminente.
Ter medo ou sentir ansiedade em algumas situações é normal, pois o cérebro humano detecta perigos e estimula o corpo a produzir substâncias químicas para manutenção do estado de alerta. Porém, quando esse estado de ansiedade se mantém por maior tempo ou é excessivo no contexto de atividades cotidianas ou restritas dos profissionais, pode ser indicativo da síndrome do pânico.
Por exemplo, motoristas precisam estar atentos às condições de trânsito para evitar acidentes, ficando ansiosos em alguns momentos de perigo, tais como: avançar no sinal vermelho, ultrapassar em local não permitido, fazer conversão proibida em via de sentido único, e desviar de pedestres.
Há pessoas que sentem ansiedade intensa ao usar elevadores, viajar em aviões, falar em público, dirigir veículos ou atém mesmo sair de casa para fazer compras. Nesses casos, é necessário procurar ajudar de médicos e psicólogos para avaliar o tratamento mais adequado.
Medidas de prevenção
O assunto abordado é muito sério e as organizações deveriam estar bastante atentas quanto aos transtornos de ansiedade dos seus trabalhadores, pois há risco de graves acidentes.
Em 07 de dezembro de 2018, em Goiânia, Goiás, um motorista de ônibus abandonou o veículo na via pública. Segundo a reportagem do G1 Goiás (2018), o motorista teve um surto devido ao estresse de lidar com as atividades de dirigir e cobrar passagens, entrando em pânico. A sobrecarga de atividades múltiplas impostas aos trabalhadores pode potencializar reações desse tipo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% dos brasileiros sofrem de algum transtorno de ansiedade. O Brasil está no primeiro lugar entre os países com maior número de casos desse tipo de transtorno. Cerca de 70% dos casos da síndrome de pânico ocorrem entre mulheres, especialmente as mais jovens, na faixa dos 15 aos 25 anos.
Portanto, realizar o monitoramento da saúde mental dos trabalhadores é necessário e essencial à prevenção de transtornos de ansiedade. O levantamento dos riscos ergonômicos das sobrecargas física e mental contribui para reduzir o estresse dos trabalhadores nas atividades nas empresas, incluindo a avaliação da capacidade para o trabalho.
O monitoramento da saúde mental deve ser incluído no gerenciamento dos riscos ergonômicos da organização, sendo necessária a avaliação técnica por parte de profissionais especialistas em Saúde e Segurança do Trabalho nesses casos e no contexto geral das condições laborais (AZEVEDO, 2019).
Azevedo (2019, p. 292-294) discute a produção “The Machinist” (O Operário), lançada em 2004, cuja estória é referente aos distúrbios mentais de um trabalhador na linha de produção de indústria mecânica e os acidentes de trabalho nos quais ele se envolveu. Condições deficientes de trabalho aliadas a falta de programas de saúde mental podem potencializar graves acidentes.
O reconhecimento dos riscos ergonômicos nas organizações é realizado a partir das disposições nas normas NR 9, relativa ao Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais (2019), e NR 17 Ergonomia, regulamentos publicados pela SIT/ME.
Para auxiliar aos administradores e profissionais, Azevedo (2019) elaborou o roteiro completo e exemplos práticos sobre a análise dos riscos laborais e avaliação ergonômica da capacidade para o trabalho. Os requisitos de saúde e segurança do trabalho devem ser contemplados no programa de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais – GRO.
O conjunto de normas e práticas prevencionistas para o trabalho deve ser aplicado considerando os riscos específicos em cada atividade produtiva.
Referências:
AZEVEDO, Rone Antônio de. Está tudo sob controle? A segurança do trabalho nas organizações. Goiânia: Edição do Autor, 2019. Disponível em: <https://www.gedaf.com.br/produto/livro-esta-tudo-sob-controle-a-seguranca-do-trabalho-nas-organizacoes/>. p. 85-100, p. 205-221.
G1 Goiás. Passageiros denunciam que motorista abandonou ônibus do transporte público, em Goiânia. TV Anhanguera: Jornal do Meio Dia, edição em 06 dez. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/goias/jatv-1edicao/videos/v/passageiros-denunciam-que-motorista-abandonou-onibus-do-transporte-publico-em-goiania/7219279/>.
G1 Mundo. Piloto que ‘surtou’ em voo nos EUA estava em pânico, dizem autoridades. Notícias G1 / Jornal da Globo, publicado em 28 mar. 2012. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/03/piloto-que-surtou-em-voo-nos-eua-estava-em-panico-dizem-autoridades.html>.
Pfizer. Qual a diferença entre ansiedade e síndrome do pânico? Disponível em: <https://www.pfizer.com.br/noticias/qual-diferenca-entre-ansiedade-e-sindrome-do-panico>.
Secretaria da Inspeção do Trabalho – SIT/ME. NR 7 Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais. Brasília: Ministério da Economia, 2019. Disponível em: <https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-17.pdf>.
______. NR 17 Ergonomia. Brasília: Ministério da Economia, 2018. Disponível em: <https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-17.pdf>.