Microplásticos contaminam água potável no mundo. Pesquisa revelou que mais de 80% das amostras coletadas em cidades nos cinco continentes apresenta vestígios de fibras plásticas.

Fibras plásticas na água de torneira do centro de visitantes do capitólio, sede do Congresso dos EUA, retenção em filtro especial e imagem ampliada em microscópio (Orb, 2017)

De Nova York a Nova Délhi, as fibras microscópicas de plástico estão na água das torneiras, segundo a pesquisa exclusiva da Orb e a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Minnesota. Mulheres, crianças, homens e bebês em grande parte do mundo estão ingerindo plástico em cada copo de água.

Na investigação de dez meses foram coletadas mais de 150 amostras de água de torneira de cidades grandes e pequenas nos cinco continentes. As amostras foram analisadas pela pesquisadora Mary Kosuth, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Minnesota, supervisionada por Sherri Ann Mason, pioneira no estudo da poluição de microplásticos.

A pesquisa da Dra. Mason, que documenta a grande extensão da poluição de microplásticos nos Grandes Lagos da América do Norte, foi utilizada para apoiar a proibição legislativa parcial de produtos contendo microesferas de plástico nos Estados Unidos e no Canadá.

Contaminação dos ecossistemas

Os microplásticos, pequenas fibras e fragmentos de plástico, não estão apenas poluindo o oceano, eles infestaram a água potável do mundo.

Os ecossistemas estão afetados em vários níveis da cadeia alimentar, pois os microplásticos absorvem substâncias tóxicas associadas ao câncer e outras doenças e as liberam quando são ingeridos por peixes e mamíferos.

Essas fibras microscópicas se originam do desgaste cotidiano de roupas, estofados e carpetes. As fibras podem chegar às torneiras das casas após contaminarem fontes locais de água ou sistemas de tratamento e distribuição. Mas ainda não se sabe como isso funciona e não existem procedimentos específicos para sua filtragem ou contenção.

Especialistas dizem que, se há fibras de plástico na água, certamente também estarão na comida, seja na cozinha ou em supermercados. Podem ser encontradas no leite em pó, no macarrão, nas sopas e molhos, no fermento da massa da pizza e na cerveja artesanal.

O plástico é praticamente indestrutível, seus resíduos não são biodegradáveis. Ele se fragmenta em pedaços cada vez menores até partículas nanométricas, de um milésimo de milésimo de milímetro. Em metros, isso corresponde à nona casa depois da vírgula decimal (0,000 000 001 m). Essas partículas somente são visíveis ao microscópio eletrônico.

Estudos revelam que as partículas desse tamanho podem migrar através da parede intestinal e viajar para os linfonodos e outros órgãos.

A descoberta de fibras na água de torneira revelam o quanto o plástico penetrou na vida e anatomia humanas. Não é possível ver moléculas de poluentes como polifluoroalquilos, encontrados em mais de 98% da população. Mas quando as fibras são filtradas em laboratório e vistas no microscópio, a contaminação se torna real.

Os cientistas acreditam que plastificantes e compostos químicos podem absorver toxinas presentes nas casas, da mesma maneira que a água. A poeira de plástico acumula em superfícies de tapetes, cabos, tintas e revestimentos de vinil. Muitos deles contêm desreguladores endócrinos. As partículas de poeira podem ser inaladas ou entrar no organismo por meio de alimentos e bebidas em recipientes.

Poeira e fibras microscópicas de plástico oriundas de cobertor de acrílico são visíveis à luz do sol e no vapor de caneca de café (Orb, 2017)

Novas tecnologias de tratamento da água

Os estudos sobre os efeitos dos plásticos sobre a saúde humana estão apenas começando. Os riscos da exposição humana a nanopartículas de plástico são desconhecidos. Os governos deveriam estabelecer limite “seguro” para o plástico na água e alimentos.

Os municípios estão começando a reconhecer a poluição. Segundo Kartik Chandran, engenheiro ambiental e pesquisador da MacArthur Foundation em 2015, a diminuição da velocidade do processo de tratamento de esgoto permitiria capturar mais fibras de plástico. Mas seria necessário construir novas estações de tratamento, o que aumentaria os custos.

A denominada Era do Plástico melhorou padrões de vida e aumentou lucros devido ao desenvolvimento da sofisticada indústria química. Mas há efeitos negativos associados à contaminação por fibras desse material e mudanças climáticas resultantes do refino do petróleo.

“Já que o problema do plástico foi criado exclusivamente pelos seres humanos, por causa da nossa indiferença, ele pode ser resolvido pelos seres humanos, se prestarmos atenção a ele”, afirmou Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2006. “Agora, o que precisamos é de determinação para resolver isso antes de sofrermos as consequências.”

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Fonte: Orb Media, 2017.