Laudo constatou falha estrutural do silo que desabou em Maceió, Alagoas, em 7 de abril de 2014.

O rompimento de um dos silos do Moinho Motrisa espalhou toneladas de trigo na Avenida Comendador Leão, em Maceió, deixando cinco pessoas feridas. A causa do acidente foi descrita em laudo técnico elaborado por empresa especializada.

Diversos automóveis foram soterrados, casas da região danificadas, e os moradores ainda não puderam retornar a elas. Apesar da dimensão do acidente, apenas uma vítima foi internada na UTI devido aos ferimentos, recebendo alta posteriormente. Não houve mortos.

Avaliação da falha estrutural do silo

A avaliação da falha estrutural do silo foi realizada por empresa Bedê Engenharia de Estrutura, de Belo Horizonte, contratada pela Moinho Motrisa. Segundo o documento, não houve nenhuma alteração na armação do silo construído em 1974, mesmo após reformas que aumentaram o peso de todo o conjunto.

Em 1985, foi adicionada camada de concreto de dois a quatro centímetros de espessura aos silos para eliminar fissuras e trincas. Essa intervenção, aliada ao processo de enchimento e esvaziamento dos silos com trigo, teria reduzido a vida útil da estrutura.

“Nesse trabalho de capeamento realizado naquela ocasião não foram acrescentadas armaduras de reforço que permitissem redistribuir as tensões localizadas já instaladas na estrutura original”, afirmam os autores do laudo técnico que inspecionaram pedaços do silo que ficaram no pátio afetado.

Segundo a empresa de engenharia, a falta de reforço nas armaduras facilitou a reabertura de fissuras. A ação da maresia sobre os silos da fábrica, devido à proximidade do mar, provocou oxidação das armaduras no concreto e reduziu sua resistência.

“Nessas regiões com aberturas acima dos valores recomendados pelas normas vigentes, é facilitada a penetração de oxigênio e cloretos da atmosfera, submetendo as armaduras a condições desfavoráveis quanto à sua durabilidade”, aponta o documento.

A advogada do Moinho Motrisa, Andréa Maranhão, declarou à imprensa que a fábrica executava reparos periódicos tanto nos silos quanto nas demais estruturas. “Sempre que necessário, nós efetuamos as reformas na empresa como um todo. Tanto que temos o alvará de todos os órgãos competentes para o funcionamento da empresa”, explica.

Questionada sobre a reforma de 1985, a empresa reafirmou que ocorreu dentro da legalidade.

Assistência aos moradores e interdição dos imóveis

Os moradores das casas atingidas pelos destroços do silo, na Vila Nossa Senhora do Carmo, ainda não retornaram ao local. Segundo a advogada Andréa Maranhão, as 23 famílias da vila foram levadas para hotéis ou apartamentos alugados pela fábrica e serão assistidas pela empresa.

“Nós procuramos dar toda a assistência aos moradores. A empresa assinou termo de compromisso e, enquanto a Justiça achar necessário, iremos pagar o aluguel, cumprindo todas as recomendações jurídicas”, explicou a advogada Andréa Maranhão.

Contudo, as famílias receiam voltar às casas porque parte do silo que rompeu permanece pendurada, sustentada pela estrutura de concreto e escorada por andaimes. Por isso, aguardam posicionamento oficial atestando ausência de risco de novos acidentes.

Os proprietários aguardam a conclusão das investigações para cobrar indenizações dos responsáveis pelo desabamento. A Avenida Comendador Leão, onde fica a fábrica, também continua parcialmente interditada e, por essa razão, os congestionamentos na região são frequentes.

A assessoria de comunicação da Superintendência Municipal de Controle do Convívio Urbano (SMCCU) informou que aguarda o laudo da empresa contratada pela Motrisa para decidir sobre a liberação da via e dos imóveis.

Risco de novos acidentes

O laudo da Bedê Engenharia foi entregue à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) em Alagoas, órgão responsável por autorizar o funcionamento da Moinho Motrisa. Segundo o auditor fiscal Elton Machado, os engenheiros confirmaram que a estrutura do silo afetado não apresenta risco de novos acidentes. A falha estrutural do silo colapsado não comprometeu a torre do moinho, mas sua recuperação depende de reformas.

“Vendo os laudos que nós recebemos, podemos constatar que o moinho não oferece risco de sinistro, desde que não seja mais armazenado trigo nos silos nas condições em que se encontram. Vimos também que a estrutura apresenta alguma corrosões, então, acredito que se a empresa desejar reutilizar o local, ela deve fazer reformas para prolongar a sua vida útil”, diz o auditor.

Fonte: Redação G1 Alagoas, por Lucas Leite e Cau Rodrigues – publicado em 22/09/2014

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