Extração de petróleo a grandes profundidades ameaça oceanos, alertam especialistas alemães em meio ambiente. Probabilidade de vazamentos aumenta por fator de escala dessa atividade, apesar da tecnologia e segurança mais avançadas.
Em 20 de abril de 2010, um incêndio na plataforma de petróleo Deep Water Horizon matou 11 dos 126 trabalhadores da unidade. A plataforma afundou nas águas do Golfo do México dois dias depois e houve grande derramamento de petróleo.
As primeiras manchas do óleo derramado no Golfo do México que chegaram em 30/10/2010 à costa do estado norte-americano de Louisiana afetaram o ecossistema único do Delta do Mississipi. Moradores dessa região temem por sua subsistência, devido às diversas tentativas sem sucesso de deter a contaminação e reparar as avarias da plataforma afundada.
Diversos especialistas participaram da operação para deter o vazamento e a mancha de óleo em expansão. Segundo especialistas alemães, a prospecção de petróleo em grandes profundidades aumenta riscos para o meio ambiente.
Desastre ambiental e barreiras para conter petróleo derramado no Golfo do México
Acidente da Deep Horizon pode superar vazamento do Exxon Valdez
Pode ser a pior catástrofe ambiental nos Estados Unidos em décadas, danos ainda mais severos do que o acidente com o superpetroleiro Exxon Valdez*, no Alasca, ocorrido em 1989.
Centenas de espécies de aves e peixes estão sob ameaça no Golfo do México. Três vazamentos despejam diariamente no mar cerca de 800 mil litros de petróleo. Em três meses, tempo estimado para concluir a segunda perfuração para vedar o poço no fundo do mar, o vazamento será próximo de 72 milhões de litros de petróleo.
Esse volume já teria ultrapassado os 41 milhões de litros despejados no oceano em 1989 pelo petroleiro Exxon Valdez.
A secretária de Segurança Nacional dos EUA, Janet Napolitano, ressaltou que a petrolífera britânica BP, responsável pela plataforma deverá arcar com os custos das operações de salvamento. O presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que “o governo continuará empregando todos os meios ao seu alcance e, se necessário, também o Ministério da Defesa”.
A empresa pediu oficialmente auxílio ao governo americano. A BP está empregando dez robôs submarinos na região, que tentam, até agora sem sucesso, fechar os vazamentos a 1.500 metros de profundidade.
Extração de petróleo a grandes profundidades aumenta chances de acidentes
Depois do vazamento de óleo no Golfo do México, especialistas alemães alertam para novas catástrofes em plataformas do petróleo a grandes profundidades.
Com centenas de espécies, fauna do Delta do Mississipi está ameaçada (foto: AP)
“Estatisticamente é muito simples. Quanto mais atividades houver, maior é a chance de ocorrerem acidentes”, resume o geoquímico alemão Lorenz Schwark, da Universidade de Kiel.
O cientista afirma que os padrões de segurança para plataformas petrolíferas são suficientemente rígidos, mas lembra que, em grandes profundidades, são enormes as dificuldades tecnológicas envolvidas no caso de problemas.
À medida que as reservas de petróleo em águas rasas vão se exaurindo, as petroleiras partem para explorar áreas mais distantes e profundas, aumentando o risco de novos desastres ecológicos no mar. Essa lógica é a mesma no pré-sal da costa brasileira.
“Reservas gigantescas estão sendo encontradas, sobretudo, em profundidades submarinas a partir dos 2 mil metros. Nessa área, a exploração vem crescendo dramaticamente, sobretudo nas costas do Brasil e do Ocidente africano”, lembrou Schwark, em entrevista ao jornal alemão Die Tageszeitung.
“Ao mesmo tempo, a extração envolve grandes desafios técnicos. Nessa região só é possível se trabalhar com robôs, porque ninguém consegue mergulhar tão fundo. Além do mais, lá é escuro e vazamentos só podem ser reparados com dificuldade. Isso é um problema enorme”, avalia Schwark.
Não há segurança total, apesar da tecnologia avançada
Apesar dos altos padrões tecnológicos, não há como garantir segurança absoluta. “Essas plataformas petrolíferas são projetos milionários, com enormes investimentos de segurança. Mas a tecnologia já chegou a tamanha complexidade que, apesar de todos os esforços, continua sempre existindo o risco de falha técnica ou humana”, ressalta Christian Bussau, oceanógrafo do Greenpeace.
Christian avalia que as empresas já trabalham nos limites do possível. Em entrevista à emissora Deutschlandfunk, Bussau observa que o vazamento na costa estadunidense é muito mais difícil de ser controlado do que em plataformas no Mar do Norte, por exemplo.
“Lá, a profundidade é de, no máximo, 200 metros e, em caso de acidente, mergulhadores podem fechar o vazamento com a ajuda de robôs”, diz. Isso não é mais possível no caso da Deep Water Horizon, que depende somente a assistência de máquinas. Um robô submarino possui luzes e câmeras, mas a visão lá embaixo é extremamente ruim. E com o óleo, a visibilidade passa a ser quase zero”, afirma.
Fonte: Marcio Damasceno / Dirk Müller, Deutsche Welle – 30/4/2010. Atualizado em 7/7/2018.
(*) Acidente do Exxon Valdez:
Na madrugada da sexta-feira, 25 de março de 1989, o capitão Joseph Hazelwood bebia uísque em sua cabine, no navio Exxon Valdez. Tinha deixado nas mãos de um subordinado o leme do superpetroleiro de 330 metros de comprimento.
O navio saíra pouco antes do Porto de Valdez, no Alasca, Estados Unidos, ponto terminal de um oleoduto de 1.200 quilômetros de extensão, e atravessava o Estreito Príncipe William, uma delgada faixa de mar ladeada por montanhas geladas e povoada por lontras, focas, aves marinhas e cardumes de salmão, arenque e linguado.
De repente, o silêncio gelado da madrugada foi cortado por um ruído surdo, o navio sacudido por um estremeção. Em poucos minutos, a bela paisagem branca começou a se tingir de negro. Nada menos que 36 mil toneladas de petróleo bruto escorreram dos porões do Exxon Valdez e se espalharam pelas águas do mar do Alasca, causando o maior desastre ecológico dos Estados Unidos e um dos maiores da História.
Comandado por terceiro suboficial não habilitado à navegação naquele tipo de lugar, o navio pertencente à empresa americana Exxon, um dos gigantes do petróleo no mundo, colidiu com bloco de gelo.
Levada pelas correntes, em oito semanas a supermancha tinha se deslocado 750 quilômetros. No total, 1.800 quilômetros de praias ficaram cobertos de piche, em alguns pontos com uma camada de 90 centímetros de espessura.
Bombardeada pelos ecologistas e pressionada pela opinião pública mundial – comovida com as imagens de pássaros, lontras e baleias mortos no meio do óleo – a Exxon mobilizou um exército de 11 mil homens para a inédita operação de limpeza.
Equipou-os com 1.400 barcos, 85 aviões e recursos como bombas de sucção e bactérias devoradoras de petróleo. Biólogos limpavam as penas de pássaro por pássaro, lontras eram alimentadas com lagostas frescas, cada pedra de cada praia era meticulosamente lavada e esfregada. O trabalho levou seis meses e custou US$ 1 bilhão.
Fonte: Acervo do jornal “O Globo”, seção Fatos Históricos, título “O desastre ecológico do superpetroleiro Exxon Valdez no Alasca em 1989”.