VLT em Cuiabá/MT - Falha estrutural

Professores de Engenharia denunciam ao Ministério Público os erros grosseiros na obra do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Cuiabá, MT.

A falha em um dos pilares do viaduto da Avenida Fernando Correa da Costa, por onde passará o modal de R$ 1,4 bilhão, envergonhou os professores do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

O Consórcio VLT e a Secretaria Extraordinária da Copa 2014 (Secopa) reconheceram a falha. Apesar de a Secopa tentar minimizar o problema, os professores engenheiros vão denunciar ao Ministério Público. Também vão ingressar com ação conjunta de improbidade administrativa e de responsabilidade social contra o os gestores públicos e os responsáveis pelas obras.

A falta de projeto será apontada como prova das irregularidades cometidas pelos autores e responsáveis das obras do VLT.

Pedro Alves – CirucitoMT (20/0
Desnível de 40 cm em um dos pilares do quarto eixo no sentido Centro-Coxipó

Falta de projeto

De acordo com o professor doutor de engenharia da UFMT Luiz Miguel de Miranda, a falha desse tipo na obra é grosseira e bastante vergonhosa para os engenheiros de todo o Estado.

“Esta notícia com certeza vai correr o mundo e vamos ficar conhecidos como incompetentes. Imagina você fazer um viaduto e ter que desmanchar. Isso é um absurdo. E agora os responsáveis pelas obras querem dizer que nada será mudado nem atrasado. Como eles podem nos garantir isso se nem sequer fizeram o trabalho direito?”, questiona Luiz Miguel.

Além do problema já apresentado, Luiz Miguel relata a falta do projeto conforme os parâmetros aceitáveis para a engenharia nacional – um dos principais pontos que demonstrariam a displicência das obras. Essa situação ainda deve trazer muitos problemas em todas as obras realizadas para a implantação do VLT, podendo resultar em danos irreversíveis.

De acordo com o especialista, um projeto adequado não fica pronto em menos de três anos, visto que na sua concepção são necessários diversos estudos como análise de solo, topografia, materiais utilizados, desenhos e adequações. Devem ser analisadas as interferências, a distribuição de tensões, e outros fatores críticos para a realização de obra desta magnitude.

“Quando a gente faz um projeto de uma viga e de uma fundação, nós levamos muito tempo para analisar aquelas condições e, no final, a gente tem que ter um ambiente de muita atenção, porque você tem que estar o tempo todo calculando as tensões, as quantidades de ferro, as cotas – que são milimétricas -, então errar 40 cm é um absurdo”. Conforme o engenheiro, a falha de cerca de 2 cm de desnível já seria o suficiente para descarrilar o trem.

Para a recuperação do trecho, o Consórcio garante que vai demolir parte do pilar com falha e reconstruí-lo no tamanho adequado. A solução apresentada pode ser ainda mais perigosa, uma vez que é necessário ter atenção as suas fundações.

Somente então é possível ter certeza de que está preparado para receber carga maior, pois cada metro cúbico de concreto equivale a 2,4 toneladas. “É claro que as obras serão atrasadas. Todos os procedimentos levam tempo. Outro fator é saber se o aumento dos pilares é adequado à estrutura que já está pronta”, pondera.

Crea-MT considera normal o erro na obra do VLT  

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Mato Grosso (Crea-MT) é uma das principais instituições que deveriam auxiliar a população na fiscalização das obras.

Inicialmente, o Crea-MT se posicionou de forma contundente. No blog Circuito Mato Grosso, edição 426, há a manchete “Crea dispara criticas à Secopa”. Posteriormente, o órgão minimizou o erro na obra, classificando-o como normal.

De acordo com o coordenador de Acessibilidade da entidade, Givaldo Campos, o VLT não está sendo acompanhado de perto pelo Conselho.

“Este tipo de problema parece muita coisa, mas não é. Na verdade são cerca de 300 pilares e só deu erro em um, então é o de menos. Isso acontece todos os dias. O grande problema é que acaba atrasando as obras”, declara o coordenador.

A mudança na postura é radical. No blog citado, o coordenador classificou as obras da Secopa como “incompetência” e “transtorno à sociedade”.

Fonte: Circuito Mato Grosso, por Mayla Miranda – publicada em 20/06/2013.

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