Na coletiva em 4 de abril, a Polícia Federal apresentou o laudo pericial do incêndio no Museu Nacional. A perícia técnica do órgão comprovou que a causa é o curto-circuito em aparelho de ar condicionado no auditório da edificação.
Na noite de 2 setembro de 2018, o incêndio de grandes proporções destruiu boa parte do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Cerca de 90% do acervo em exposição foi comprometido.
Os peritos designados pela Polícia Federal são especialistas em incêndios originários de instalações elétricas e de grandes proporções, reconstituição e análise de vestígios em local de crime.
A investigação objetiva apurar a negligência da Administração do Museu Nacional. A partir dos resultados da perícia, o delegado designado decidirá se apresentará denúncia criminal.
Laudo pericial de incêndio
Os peritos reconstruíram em maquete a edificação do Museu Nacional para avaliarem a dinâmica do incêndio, onde teria iniciado e como teria se propagado.
Segundo o laudo pericial, um aparelho de ar condicionado ligado no auditório gerou superaquecimento e pegou fogo. Esse foi o princípio de incêndio que destruiu boa parte do acervo do Museu Nacional.
Segundo os peritos, a falha ocorreu no aparelho C, próximo ao palco do auditório. Os três aparelhos de ar condicionado do auditório estavam ligados a apenas um disjuntor. Contudo, a especificação do fabricante recomenda um disjuntor para cada aparelho.
O perito criminal Marco Antonio Zata relatou possível falha no disjuntor, pois este não desarmou com a sobrecarga. O perito mencionou também que as máquinas do sistema split, as evaporadoras, não estavam aterradas. As condensadoras, na área externa do prédio, não foram atingidas pelo incêndio e estavam preservadas. Constatou-se que a fiação do aparelho C estava rompida.
Houve aumento súbito da corrente elétrica, sobrecorrente, confirmada por escurecimento de um dos cabos e aderência. Alguns circuitos analisados foram modificados antes do incêndio.
O perito especialista em incêndio Carlos Alberto Trindade relatou que as câmeras não captaram o início das chamas, mas o trajeto do fogo foi reconstituído a partir das evidências encontradas.
O fogo começou no auditório e seu comportamento foi radial e ascendente, tendência para subir. Então, propagou do auditório para o segundo piso, atingindo a sala do dinossauro, exposição do maxakalissaurus, e para a sala da preguiça gigante. A fumaça foi se acumulando nos ambientes do museu, gerando novos focos de calor e chamas.
A investigação pericial descartou outras hipóteses de incêndio, tais como descarga atmosférica, balão ou ato intencional. O auditório estava trancado e não foram encontrados vestígios de agentes inflamáveis ou objetos relacionados.
O inquérito de apuração da responsabilidade pelo incêndio no Museu Nacional segue em andamento, mas não há previsão de término.
Fonte: Agência Brasil, publicado em 4/4/2019. Acesso em 26/6/2019.
Comentário técnico*
Nas investigações sobre incêndio, é necessário analisar os projetos e os componentes das instalações elétricas e hidráulicas, e os sistemas de combate à incêndio.
As instalações devem ser dimensionadas, executadas e operadas conforme as recomendações dos projetistas e fornecedores de máquinas e equipamentos. Devem ser respeitadas as diretrizes das normas técnicas brasileiras e instruções do corpo de bombeiros.
Normalmente, há grande dificuldade em verificar as condições das instalações em edificações destruídas por incêndios, pois boa parte dos componentes foi destruída, demandando perícia especializada para verificar vestígios e analisar a propagação do fogo.
No inquérito policial, serão identificados os responsáveis técnicos que elaboraram os projetos e executaram reformas na edificação danificada pelo incêndio:
- estrutura e materiais resistentes ao fogo: engenheiros civis e arquitetos;
- instalações elétricas comerciais ou industriais: engenheiros eletricistas;
- instalações hidráulicas de combate à incêndio e rotas de fuga: engenheiros civis e arquitetos;
- reformas e modificações das instalações: profissionais correspondentes, conforme suas atribuições legais.
Administradores patrimoniais devem arquivar todos os projetos e registros dos responsáveis técnicos para prevenir seu indiciamento e responsabilização criminal. Se ficar comprovado que a edificação não tinha projetos ou passou por modificações irregulares, ou seja, realizadas sem responsáveis técnicos, os administradores podem vir a responder em razão da sua culpa ou omissão.
Os administradores também deverão comprovar os procedimentos relativos à constituição da brigada de incêndio e realização periódica de exercícios simulados de abandono da edificação.
(*) Eng. Civil e Segurança do Trabalho Rone Antônio de Azevedo, da Loxxi Engenharia.